13 de outubro de 2011

A prima de um amigo meu - Álvaro Cardoso Gomes

No novo título da coleção "Descobrindo os Clássicos", A prima de um amigo meu, o escritor, crítico literário e professor Álvaro Cardoso Gomes atualiza em um enredo juvenil uma das principais criações literárias em língua portuguesa: O primo Basílio, de Eça de Queirós.


Álvaro centra as ações de sua obra em Renato, jovem de classe média da cidade de São Paulo que desfruta de grande prestígio com as garotas e não se constrange em colecioná-las como figurinhas fáceis de um álbum.
Simpático e bonito, Renato não se cansa de alimentar a fama de uma espécie moderna de Dom Juan do bairro. Ele é desejado por garotas de grande beleza, como é o caso de sua conquista mais recente, Cláudia.


É nesse contexto que surge a nova aluna da classe de Renato, Maria Luísa, prima de seu amigo Felipe, e que vai balançar as certezas e a auto-imagem do rapaz. "Uma garota e tanto", como a ela se referiu Alice, cunhada e confidente de Renato, que vai ajudá-lo a compreender as sutilezas e as entrelinhas do clássico 


O primo Basílio, já que o jovem e alguns colegas de classe, Maria Luísa incluída, têm a missão de realizar um seminário sobre o romance de Eça.




Aluna aplicada, Maria Luísa deixa claro que admira a obra de Eça de Queirós e quer fazer um ótimo trabalho escolar. Renato, que não tem a menor idéia do significado do livro do autor português, sabe que para merecer a atenção da garota vai ter de se esforçar muito para dominar o romance. Conhecendo melhor essa história, poderá até tirar lições que o transformarão num homem melhor.
Combate à hipocrisia


Alice é também professora e vai explicar a Renato que o romance O primo Basílio está inserido na escola conhecida como realismo, movimento literário surgido na França em meados do século XIX. "Nessa época, apareceram por lá escritores famosos como Zola, Maupassant, Flaubert. Aliás, esse último foi um grande inspirador do Eça, com seu romance Madame Bovary, que também trata do adultério."


Para criticar a hipocrisia reinante nos relacionamentos da época em Portugal (o livro foi publicado originalmente em 1878), Eça de Queirós tipifica detalhadamente diversos personagens. Basílio, por exemplo, é o conquistador oportunista que não vacila em se valer de qualquer artifício para conquistar sua prima Luísa - casada com o engenheiro Jorge -, com quem namorara quando ainda eram muito jovens. Esta, por sua vez, possui uma mente frágil, que se deixa levar por romances açucarados e pelas descrições picantes de uma amiga assumidamente adúltera, Leopoldina.


Outra personagem que mereceu grande visibilidade na trama de Eça foi a empregada Juliana. Ela passa a deter segredos da traição conjugal de Luísa e a encantoá-la cada vez mais, a ponto de misturar os papéis de patroa e empregada. Como destaca o doutor em letras Gilberto Martins, que assina a seção "Outros olhares sobre Eça de Queirós", disponível no final de A prima de um amigo meu, "Eça confere lugar de destaque às reivindicações das classes menos favorecidas (representadas pelas personagens Julião e Juliana), problematizando, contudo, seus princípios, instrumentos e ambições".


FIM!

Nenhum comentário:

Postar um comentário